"Temos mesmo de olhar para este problema não com uma luta política ou ideológica. Trabalhar todos juntos para salvaguardar a vida dos lisboetas e para que a sociedade não entre nesta fricção, que é terrível para a democracia. E a democracia precisa mesmo que hoje estejamos unidos nesta luta", afirmou o presidente da câmara, Carlos Moedas (PSD), na reunião da Assembleia Municipal de Lisboa (AML).
O autarca do PSD falava no âmbito da apresentação do trabalho da câmara nos últimos dois meses, entre abril e maio, em que aproveitou para fazer um balanço do mandato 2021-2025, destacando o envolvimento das pessoas nas decisões sobre o futuro da cidade, inclusive com o Conselho de Cidadãos.
Na perspetiva de Carlos Moedas, foi o afastamento entre os políticos e as pessoas que "fez crescer o extremismo".
Um dos temas destacados pelo presidente da câmara foi a questão da segurança, que também fez parte da intervenção da maioria dos deputados da AML, inclusive com a condenação do ataque à companhia de teatro A Barraca, em particular ao ator Adérito Lopes, perpetrado por um grupo de extrema-direita, à porta do Teatro Cinearte, em Lisboa, na noite de 10 de junho - Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.
Além de condenar "a agressão violenta de um ator por extremistas movidos por puro ódio ideológico", Carlos Moedas lamentou outras ocorrências de insegurança e violência registadas nos últimos meses na cidade, incluindo "três jovens mulheres que foram violadas na zona do Martim Moniz" e uma pessoa esfaqueada na Rua do Benformoso.
"Lisboa não pode ser isto", defendeu o social-democrata, ressalvando que o presidente da câmara "não é responsável pela segurança na cidade" e reforçando o pedido de uma reunião urgente com a ministra da Administração Interna e a necessidade de o Governo disponibilizar mais polícias.
Destacando a instalação de câmaras de videoproteção pela cidade, Carlos Moedas manifestou disponibilidade para trabalhar com a PSP para "ter câmaras móveis para garantir a segurança", nomeadamente no Martim Moniz: "Porque não podemos permitir que estas zonas da cidade se tornem verdadeiras bombas-relógio".
O grupo municipal do Chega associou a "imigração massiva e descontrolada" com o aumento da criminalidade e criticou o autarca do PSD por "hipocritamente" se vir agora queixar quando antes tinha "um discurso leviano" e "defensor do multiculturalismo".
O PAN criticou a "falta de seriedade" no discurso do social-democrata sobre a insegurança, para "caça ao voto em tempo de eleições", enquanto "o discurso do ódio aumenta e o medo enraíza-se e a esperança desvanece".
Os Cidadãos Por Lisboa (eleitos pela coligação PS/Livre) lamentaram a equiparação por Carlos Moedas dos atos de violência da extrema-direita com "alegados extremismos à esquerda dos quais não há registo", acusando-o de contribuir "para normalizar crimes de ódio, embarcando no mesmo discurso que tem, por exemplo, André Ventura [presidente do Chega]".
O Livre considerou que os ataques de ódio são "o resultado da normalização do discurso de ódio, da degradação do debate público e da legitimação por parte do Chega da violência e de quem a executa", assim como o papel dos partidos democráticos de "imitar a agenda e o discurso da extrema-direita".
Também o BE recusou a equiparação da extrema-direita com a extrema-esquerda, questionando Carlos Moedas sobre o que fará para evitar que grupos criminosos de extrema-direita se infiltrem na Polícia Municipal.
A IL repudiou e condenou os ataques de ódio "venham da extrema-direita ou extrema-esquerda", lembrando uma manifestação, inclusive com a participação do BE, com cartazes a dizer "morte aos senhorios", situação que também foi lembrada pelo deputado Aliança.
O CDS-PP optou por criticar o PS por defender agora que Lisboa precisa mesmo de mais segurança quando há alguns meses estava "a acusar a PSP de violência policial no Martim Moniz e a participar na manifestação contra a polícia por causa da operação no Benformoso".
Sem responder às críticas, o PS manifestou preocupação com "as violações, agressões e crimes de ódio", lamentando a ausência de informação por parte do autarca do PSD sobre violações nas zonas de diversão noturna, "que são recorrentes", e defendendo que a videoproteção é fundamental, assim como os guardas-noturnos.
Leia Também: Ventura diz que país se transforma "pelos votos" e não com "violência"